ESPÉCIES DE MADEIRAS


forma simples de conhecer a classificação, as características, as aplicações e curiosidades diversas sobre as variadas espécies de madeiras maciças existentes


IPÊ-TABACO



(Foto de autoria de Ogusuku, L. M., ipê-amarelo localizado em Patos de Minas/MG, obtida na página eletrônica do Panoramio, no endereço eletrônico: http://www.panoramio.com/photo/57859917)


Parte significativa dos dados e informações técnicas contidas nesta postagem são creditados a Armando Luiz Gonzaga, autor do livro "Madeira: Uso e Conservação", integrante da série Cadernos Técnicos 6, do Programa Monumenta, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (in GONZAGA. Armando Luiz. Madeira: Uso e Conservação. DF IPHAN/MONUMENTA, Cadernos Técnicos 6, Programa Monumenta, pp. 196 a 199).

Leciona Armando Luiz Gonzaga que conjuntamente às características do Ipê-Tabaco (Tabeluia vellosoii) devemos observar também aquelas atinentes ao Ipê-Pardo (T. ochracea), de modo a que se possa obter uma definição mais completa da espécie.

Dessa forma, no texto adiante, para uma melhor compreensão reproduziremos na íntegra excertos dos textos explicativos de ambas as espécies botânicas mencionadas:

"Introdução: ver também a ficha 33 - ipê pardo. Por falta de dados da espécie botânica Tabeluia vellosoii, arrolada na Relação de madeiras indicadas para a construção naval", e para fornecer pelo menos valores de referência para o leitor, utilizaremos os dados do IPT/SP (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) para a espécie Tabeluia impetiginosa, mas adequadamente conhecida como piúna, piúna-preta, piúna-roxa, ipê-preto, ipê-una.


Classificação botânica: Tabeluia vellesoii, família Bignoniaceae.
Cumpre registrar que a espécie Tabeluia vellesoii - Ipê-amarelo - foi escolhida, por Decreto Federal, árvore símbolo do Brasil. Vários ipês-amarelos apresentam flores quase iguais.

Nomes vulgares: cavatã, piúva, ipê-amarelo, ipê-cascudo, ipê-comum, ipê-preto, ipê-roxo, ipeúna, pau-d'arco. Na Amérca espanhola: lapacho.

Ocorrência: considerando as diversas espécies, o gênero é nacional.

Classificação comercial: madeira de lei.

Aspecto - características gerais

Alburno: contrastado, branco palha, extremamente vulnerável.

Anéis de crescimento: distintos, regulares, demarcados por tecido fibroso mais denso (e escuro) e parênquima marginal.

Brilho: moderado.

Cheiro e gosto: indistintos.

Figura e cor: cerne pardo-castanho ou pardo-havana, com reflexos esverdeados quando recém-cortado (presença de ipeína), escurecendo por oxidação. Após verniz ou tratamento oleoso, adquire sua cor mais forte, castanho muito escuro, com destqaue para as faixas dos anéis anuais quase negros.

Grã: em parte direita, com faixas revessas.

Peso: muito pesada, dura, difícil de trabalhar.

Textura: fina a média, uniforme, medianamente lisa ao tato, exceto nas faixas revessas."


(Foto do corte radial do caule da espécie botânica Ipê-Tabaco (Tabeluia vellosoii), obtida na página eletrônica do Caderno Monumenta, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, do Governo Federal, no endereço eletrônico: http://www.monumenta.gov.br/upload/Caderno%20Madeiraweb_1173383037.pdf)



Dando continuidade, Armando Luiz Gonzaga ensina:

"Durabilidade natural: alta resistência a fungos e insetos xilófagos, mesmo em condições desfavoráveis. Praticamente impermeável a soluções preservantes. Baixa e média resistência ao teredos navais.

Aplicações recomendadas: na carpintaria naval, muito apreciada por sua durabilidade e alta resistência, embora seja razoavelmente flexível, vantajosa no tabuado do casco. Todas as partes das obras vivas. Excelente cavilha e cunha. Na carpintaria civil, em vigas de alta responsabilidade, estruturas sujeitas ao intemperismo.

Não a recomendo para usos mais nobres e decorativos, exceto assoalhos, face ao elevado peso e tendência a encanoar na secagem. Adequada para peças torneadas. Também não recomendo para usos externos rústicos, como dormentes, moirões etc., pelo desperdício.

Obs: sob o nome pau d'arco, citada como madeira da construção naval no Grão-Pará, em carta de 1777 do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira ao Ministro da Marinha em Lisboa, indicando-a para quilhas, sobrequilhas, cadastes, vaus e cintas. O autor concorda.

Curiosidade: a ipeína é um forte corante vermelho-sangue em meio alcalino forte, o que já era conhecido pelos botânicos europeus, de acordo com a citação - "esta madeira brasileira que se usa para tingir" - feita pelo abade Dom Joseph Pernety, naturalista-mor da expedição científica do Conde Bougainville, em 1763, quando fundearam junto à Ilha de Santa Catarina.

Acredita o autor serem necessária pesquisas históricas mais profundas, pois não parece razoável usarem como corante apenas o pau-brasil - Caesalpinia echinata - , nativo somente em algumas de nossas matas, e que em meio alcalino produz tinta violeta (o corante de tecidos deve ser de base alcalina, para não ser descolorido pelo sabão); e o ipê é muito mais abundante, existindo em todas as florestas brasileiras."

Para saber mais sobre a espécie botânica ipê, notadamente, sobre suas características gerais; preservação; secagem em estufa; trababilidade; uso final; retenção e preservação de preservativos de madeira; propriedades físicas e mecânicas, é interessante consultar a página eletrônica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), no endereço eletrônico http://www.ibama.gov.br), que apresenta um vasto banco de dados sobre madeiras brasileiras.


Na obra citada, de onde foram extraídos estes dados e informações técnicas, Armando Luiz Gonzaga aponta e complementa, adiante, especificações referentes às espécies botânicas Ipê-Pardo e Pau-D'Arco-Amarelo.



IPÊ-PARDO E PAU-D'ARCO-AMARELO

"Introdução: são tantas as espécies, são tantas as cores (das flores), são tantos os tipos de madeiras, que fica dificil explicar sinteticamente, como neste trabalho, como são e para que servem as madeiras conhecidas como ipê, no Sul do Brasil; ipeúva ou paratudo no Centro-Oeste; pau d'arco no Norte e Nordeste. o ipê é madeira de todo o Brasil, variando as espécies. Vamos tratá-lo por ipê, como é mais conhecido comercialmente no Sudeste e também na Amazônia.

Classificação botânica: gênero Tabeluia (anteriormente Tecoma) de diferentes e diversas espécies. Família Bignoniaceae.

Nesta ficha individualizaremos em T. ochracea, vulgarmente ipê-pardo. 

Nomes vulgares: pau-d'arco, pau-d'arco-amarelo, ipeúva, paratudo, tarumã, ipê-do-serrado, ipê-do-brejo, ipê-do-morro, ipê-una, piúna ou piúva, lapacho em toda a América espanhola.

Ocorrência: considerando as várias espécies, a ocorrência é nacional.

Classificação comercial: madeira de lei. 

Aspecto - características gerais

Alburno: branco-amarelado, algo rosado, muito distinto, pouquíssimo resistente a fungos e xilófagos.

Anéis de crescimento: distintos, regulares, marcados por tecido fibroso mais denso e parênquima marginal.

Brilho: moderado.

Cheiro: característico quando recém-cortado.

Figura e cor: os anéis de crescimento pronunciados e o tecido fibroso caracterizam a face tangencial do cerne. Recém-cortado, é castanho com reflexos esverdeados claros, bem nítidos (é a ipeína), escurecendo com o tempo, ou tratamento alcalino.

Gosto: pouco distinto, adstringente.

Grã: direita, às vezes revessa.

Peso: madeira muito pesada, resistente ao corte.

Textura: fina a média, medianamente lisa ao tato.



(Foto do corte radial do caule da espécie botânica Ipê-Pardo (T. ochracea), obtida na página eletrônica do Caderno Monumenta, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, do Governo Federal, no endereço eletrônico: http://www.monumenta.gov.br/upload/Caderno%20Madeiraweb_1173383037.pdf)



Durabilidade natural: extremamente durável, resistente a fungos e cupins; durável também na presença de umidade. Considerada a mais resistente madeira brasileira, em condições adversas. Resistência média a teredos navais (gusanos). Em contraste, o alburno (brancal) é muito vulnerável.

As espécies da vargem e do brejo são mais duras do que as dos morros e cerrados.

Tratamento: por ter os poros obstruídos por óleos, resinas e tilos, é praticamente impermeável aos preservantes, mesmo sob pressão. Todavia, para maior proteção e estabilização (menor adsorção de umidade), convém aplicar algum impermeabilizante, em ambas as faces.

Aplicações recomendadas: por suas características físico-mecânicas, de extrema durabilidade, é uma das principais madeiras (talvez a primeira), na carpintaria naval, nas obras vivas do casco (em contato com o mar). Ideal para quilha, sobrequilha, cavernas, escoas, forração do casco, vaus e latas, até assoalho do convés (menor indicação). Face ao peso específico, não usar na superestrutura. Excelente para cavilhas e cunhas. Na construção civil, é ideal para vigas, pilares, assoalhos, rodapés e escadas.

Não recomendo para lambris, forros e outras partes finas, por causa de sua tendência a empenar e fendilhar. Melhor em peças de maior espessura. Por excepcional resistência à umidade e intempéries, é ideal para trapiches, atracadouros, parapeitos e assoalhos expostos. Adequado também para cabos de ferramentas, instrumentos musicais e bolas de boliche. Seu peso específico alto diminui sua qualidade para usos mais nobres, como móveis, molduras etc.

Cuidados especiais: é madeira que "trabalha" bastante. Procure usá-la seca. Impermeabilizar nas faces internas também (a face inferior do assoalho, por exemplo). Indispensável a furação pévia antes de pregar ou aparafusar. A aplicação de solução alcalina o torna avermelhado, depois castanho-escuro (pinhão).

Curiosidade: serve de teste, para determinar se é ipê, de fato, sujar as mãos com o pó da serra (quanto mais esverdeado, melhor) e lavá-las com sabão grosso, torna-se vermelho-sangue. Mais tecnicamente: submeter o pó da serragem a um alcalino forte (potassa ou soda) - deve adquirir cor vermelho-encarnado (por mutação da ipeína).

Obs: citada como madeira da construção naval no Grão-Pará, em carta de 1777 do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira ao Ministro da Marinha em Lisboa, indicando-a para quilhas, sobrequilhas, cadastes, vaus e cintas. O autor concorda."