CURIOSIDADES

forma simples de conhecer a anatomia da madeira

Desenho esquemático da anatomia do tronco de uma folhosa (Obs: o desenho é apenas ilustrativo, não havendo qualquer rigor na escala)

Armando Luiz Gonzaga leciona acerca da anatomia da madeira (in GONZAGA, Armando Luiz. Madeira: Uso e Conservação. DF IPHAN/MONUMENTA, Cadernos Técnicos 6, Programa Monumenta, 2006, pp. 21/22):

"O tronco de uma árvore produtora de madeira porde ser descrito, de forma simplificada, como uma pilha de cones superpostos. Cortado transversalmente, o tronco apresenta um desenho de círculos concêntricos, chamados anéis de crescimento ou anéis anuais. Em clima temperado, um anel "anual" típico apresenta duas faixas:

* Lenho inicial ou primaveril, mais largo e mais brando.
* Lenho tardio, ou lenho estival ou outonal, mais compacto e mais rijo.

 O termo anel anula não é adequado, pois podem surgir falsos anéis devido a estímulos ao crescimento recebidos fora da época, por conta de veranicos, de um outono chuvoso, ou de outros fatores.

Também não é adequado, no Brasil de múltiplos climas, chamá-los de "primaveris" e "outonais", o que é correto em clima frio. O melhor é tratá-los por lenho inicial, no início do calor, das chuvas  e dos ventos, que vergam a árvore, bombeando água tronco acima; e por lenho tardio, do tempo calmo, quando caem as folhas e pocuo chove. O tronco apenas amplia seu diâmetro a cada ano, ganhando mais dois anéis, mas não "cresce" no sentido vertical, o que só corre com as pontas dos galhos.

As árvores de clima temperado e subtropical apresentam anéis mais distintos. Isto é, mais contrastados entre os de primavera/verão e os de outono/inverno do que os de árvores de clima tropical, nas quais o contraste é pequeno. Entretanto, sempre há alguma diferença, até porque, nos trópicos, inverno não significa frio, mas seca, e verão quer dizer chuva, períodos que ocasionam crescimentos diferenciados. No clima frio, a árvore entra em dormência total total logo após o outono, parando de crescer. Os anéis apresentarão um contraste abrupto com os da próxima primavera.

Outro detalhe anatômico, que gera desenhos decorativos, é o contraste entre recido fibroso e parênquima. Esse contraste é mais acentuado no caso das leguminosas.
Examinando o corte transversal do tronco, de fora para dentro vemos as seguintes camadas:

*Casca exterior: secae totalmente inerte, tem apenas função protetora para o tronco, que cresce diametralmente. A casca, já morta, não o acompanha. Ela se racha ou se solta, como nas mirtáceas. É o ritidoma.

* Floema: ou casca interior, tem como função principal o transporte da seiva elaborada a ser distribuída ao câmbio e ao alburno. Do floema de uma árvore comum na Península Ibérica, o sobro - Quercus suber -, se faz a cortiça, ideal para o arrolhar as garrafas de bons vinhos.

* Cambium: essa película de espessura microscópica é o tecido que produz o crescimento diametral do tronco, gerando um anel exterior para o floema, e um interior para o xilema. Chamamos lenho inicial, ou primaveril, o tecido de células maiores, menos densas, e lenho tardio, ou de outono/inverno (no nosso clima), o lenho de células menores, tecido fibroso mais denso, em geral mais escuro. Esses anéis alternados nos revelam, além da idade da árvore, as condições climáticas que prevaleceram na época de seu desenvolvimento.

* Xilema: que é a madeira propriamente dita, divide-se em alburno, brancal ou borne, a camada mais externa, adjacente ao câmbio, de tecido mais brando e mais claro, por onde sobe a seiva vinda das raízes; e o cerne ou durame, formado pela deposição de resinas, óleo e cera na camada mais interna do brancal. Essa camada é anexada anualmente ao cerne.

* Cerne: representa a madeira com suas cores, características e desempenho conhecidos. O brancal é mais claro, mais fraco e menos resistente a fungos e insetos, exceto algumas madeiras das folhosas e nas coníferas em geral. Como regra, pode-se dizer que quanto mais contrastado o cerne, mais fraco e vulnerável será o alburno.

As células do lenho se encolhem e se dilatam, absorvendo ou perdendo umidade (inicialmente a seiva) na "cintura", ou largura, mas não no comprimento. Ou seja, a madeira "trabalha" transversalmente à grã, mas não no sentido da grã, do fio da peça.

No sentido axial, as células de todos os tecidos apresentam-se pelo comprimento, exceto os raios. Nesse sentido longitudinal a contratação é desprezível. No sentido tangencial, ao diminuir a largura, incluisve os raios, todos os tecidos terão contração (ou dilatação) máxima. No sentido radial, os raios estão alinhados pelo comprimento das suas células e funcionam com barras inibidoras da contração (ou dilatação) dos tecidos, que será menor.

Cortado o tronco longitudinalmente, tangenciando e também seccionando os anéis para se obter tábuas, esses cones produzirão desenhos na face da madeira. Podemos afirmar que essa é a principal decoração da maioria das tábuas. São os desenhos formados pelo seccionamento dos cones de crescimento do tronco da árvore. Chama-se esse corte de tangencial. Se o corte é feito da periferia para o centro (ou medula), é chamado de radial, pois acompanha o sentido dos raios."




 

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